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                                        Pesca artesanal e fotografias


A sobrevivência da pesca artesanal nos dias de hoje é muito difícil e nas grandes cidades chega a ser, talvez,
um milagre. Pressões enormes e de todos os tipos são exercidas sobre estes homens, mulheres e suas comuni-
dades, que dificultam e às vezes impedem suas atividades na pesca.

A degradação do meio ambiente é um inimigo mortal destas pessoas que dependem diretamente da natureza
para sobreviver. As grandes concentrações urbanas destroem os ecossistemas costeiros, atingindo o estoque
do pescado exatamente nos locais onde estes pescadores tem condições de ir buscar o seu sustento. Quantas
vezes os barcos voltam para terra com as redes vazias e os arrastões feitos na praia só trazem lixo, latas e
garrafas plásticas. Os pescadores garantem que há alguns anos atrás a pesca era muito mais farta.

A especulação imobiliária expulsa os pescadores das praias, pois em geral os locais onde eles habitam são
regiões bonitas e cobiçadas. Muitas vezes eles são obrigados a ir morar longe do mar ou em favelas, pois nas
proximidades das praias o preço dos aluguéis ou moradias atinge valores estratosféricos. Para chegar à praia
tempo de ir para o mar, é preciso sair de casa muito cedo e percorrer distancias enormes até chegar à colônia
de pesca. Outras vezes eles ficam confinados a um canto da praia porque o resto da região está tomado de
condomínios e casas de veraneio.

Estes homens são pessoas simples, muitos deles filhos ou netos de pescadores e seus filhos talvez não sigam
a profissão dos pais. De uma maneira geral os pescadores gostam de falar do seu trabalho e se orgulham do
conhecimento que tem do mar e da pescaria. Eles tem consciência dos problemas da sua classe, dos problemas
ecológicos do mundo de hoje, e muitos parecem ter noção de que a proteção do meio ambiente, além de ser
necessária para todos, pode ser uma importante aliada nas suas causas e de suas comunidades. São homens
e mulheres,
com qualidades e defeitos como todos nós.

Mas o que me levou a fazer imagens dos pescadores foi, primeiramente, o prazer de fotografar na esperança de
capturar a luz com suas nuanças e as formas do mundo, tentando colocá-las em uma imagem. O fato de gostar
de ficar perto do mar, da praia e da natureza também me ajuda muito nas minhas andanças atrás de imagens.

As informações acima são uma pequena parte do muito pouco que eu aprendi sobre a pesca artesanal. Estas e
muitas outras estão lá para quem estiver interessado em vê-las, ouvi-las e, o que eu acho mais difícil, para
quem puder compreendê-las. Junto com as imagens, estes dados mesmo que não sejam explicitados, podem
formar um importante e poderoso painel das comunidades e/ou dos locais fotografados.

Muitas fotografias já foram feitas sobre o mar, a pesca e os pescadores. Talvez este seja um dos temas mais
fotogrados no mundo. Algumas pessoas até dizem que "há imagens demais sobre a pescaria". Pode ser. Mas o
mar nunca deixará de ser fascinante, poderoso e misterioso para nós e, juntamente com as pessoas e os seres
reais ou imaginários que nele vivem, irá sempre ser cantado, pintado, fotografado ou simplesmente admirado.
Atualmente, principalmente por causa da internet, há um excesso de imagens sobre todos os assuntos
circulando no mundo, o que não é necessariamente uma coisa ruim.

Estar na praia ou perto das ondas e do oceano é muito bom, mesmo que não se consiga fazer uma só foto.
As imagens poderão ser parecidas mas nunca iguais, poderão ser ruins, poderão ser boas ou, quem sabe,
excelentes. Nunca se sabe! Fotografando é que se tem a chance de fazer "a foto".

Acho que as fotografias acabam sempre espelhando a opinião e os sonhos de quem as faz, mesmo que a pessoa
não queira. As fotos são meio mágicas, cheias de inesperados e surpresas como em uma pescaria e com um
horizonte infinito como o que temos no mar. Quando fazemos uma foto colocamos nela idéias, sentimentos e,
algumas vezes, nem temos consciência disto. Quem as olha, por sua vez, vai intepretá-las também através do
seu filtro pessoal. A imagem é uma linguagem universal mas, sujeita a leituras particulares.