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                                                     Arpoador


A Ponta do Arpoador é, na minha opinião, um dos lugares mais legais da cidade do Rio de Janeiro. Um lugar que
tem praia (aliás, praias: a Praia do Diabo, Praia do Arpoador e as praias do Forte Copacabana), o mar, um por
do sol que muitas vezes é aplaudido pelas pessoas e a pedra que nos permite entrar no mar sem molhar os pés.
Eu costumo dizer que ali é o melhor lugar do mundo.

Apesar de estar localizada entre Copacabana e Ipanema, dois bairros onde há muita agitação, o ambiente por
ali é de calma e tranquilidade. Parece que a cidade passa, correndo e com pressa, por fora do Arpoador
ignorando aquela ponta de terra ou sendo por ela ignorada. Apenas nos finais de semana de verão, devido ao
grande nú mero de banhistas vindos de vários pontos da cidade, a agitação se instala. Mas a praia é um lazer
democrático, para todos e, por enquanto, ninguém teve a infeliz idéia de cobrar algum tipo de pedágio para
podermos ir à praia.

Quando estava preparando uma exposição sobre o Arpoador eu procurava por fotografias nos meus arquivos e,
ao mesmo tempo, ia várias vezes ao local fazer novas fotos. Nesta procura por imagens para tentar mostrar o
Arpoador, ou talvez na verdade mostrar o meu Arpoador, uma das coisas que sempre me vinha à cabeça era
encontrar os personagens do lugar: os surfistas, os meninos do Morro do Pavão pegando onda, os ambulantes,
os catadores de mariscos, os pescadores na pedra, a multidão nos finais de semana ensolarados. Mas uma vez
feitas e escolhidas as fotografias, percebi que eu não havia conseguido focar nos personagens ou em focar
em um determinado personagem do Arpoador, pelo menos de uma maneira que fosse satisfatória para mim.

O conjunto de fotografias me parecia bom e as imagens eram bonitas. Mas onde estavam os personagens?
Estava faltando alguma coisa! Porque as fotos escolhidas não destacavam pessoas ou um grupo de pessoas
do lugar? Seria por acaso o velho problema de me aproximar das pessoas e conquistar sua confiança para
fotografá-las? Era uma das possibilidades, pois esta é sempre uma barreira a ser superada.

Em um certo momento deste processo comecei a perceber que já havia nas fotografias selecionadas algo que se
destacava e que tinha por assim dizer uma personalidade muito forte: era o próprio Arpoador com suas praias, a
pedra e o mar. Daí para frente tudo ficou claro como cristal e as fotografias escolhidas começaram a se encaixar
como num passe de mágica. A Ponta do Arpoador era o personagem que eu procurava e, sem perceber, já havia
encontrado há bastante tempo.

E as pessoas? Bem, as pessoas fazem parte do cenário e talvez seja isto uma das coisas que torna o Arpoador
um lugar especial, um pouco mágico. Ali nos sentimos envolvidos pela natureza e parte dela. Percebemos a sua
força, sua imensidão e temos uma sensação de ser pequeno mas não nos sentimos diminuídos. Na verdade,
muito pelo contrário, no Arpoador a gente se sente grande, em paz e feliz.